No fundo da gaveta

     Era uma vez, uma menina que gostava muito de usar salto alto, mas, como tinha só cinco anos, a mãe não a deixava usá-los.

    Todos os dias se questionava sobre o facto de as coisas mais bonitas estarem no alto e ela não as conseguir alcançar. A mãe, por exemplo, estava mais perto da copa das árvores mais elegantes e o pai quase que conseguia tocar nas nuvens. Só aqueles sapatos altos podiam ser a solução para o seu problema. A mãe até tinha uns em casa: eram tão altos e de um preto tão brilhante que só podiam certamente ter mesmo muita magia!

    Num belo dia de sol, os pássaros cantavam tanto e tão alegremente que a menina ficou com ainda mais vontade de chegar aos seus ninhos. Então, ela foi buscar os sapatos da mãe e guardou-os na mochila. Sem ninguém a ver, no recreio, calçou-os e sentiu imediatamente a magia deles: ela sentia-se quase a tocar no sol! Andou tanto que, ao pisar uma pedrinha, tropeçou e caiu no chão. Ao levantar lentamente a cabeça e ainda confusa com a queda, viu uma pequena flor, murcha e a pedir socorro. Sem pensar, foi imediatamente ajudar a flor que, grata pela sua prontidão, ergueu-se quase como que a sorrir.

    Nesse dia, a menina entendeu que as coisas mais belas e que necessitam da nossa luz, nem sempre estão nos sítios mais altos e mais vistosos. A nossa essência está nos cantinhos escondidos do nosso ser.



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